Como está o seu?
Tudo começou porque eu estava desenhando um coração; só que em vez do coração ser vermelho, ele era marrom, e, em vez de ser feito coração que a gente conhece, ele era todo achatado assim pro lado e acabava de repente, deixando a gente sem saber que fim ele levava.
Quando terminei o desenho, eu mostrei ele pro meu colega.
- Que é isso? - ele perguntou.
- Ora, taí.
- Taí o que?
- Mas não dá pra ver o que é?
- Não.
- Então adivinha, ué.
- Sei lá.
- O meu coração.
- Ele olhou e olhou.
- Ainda não tá vendo não? - eu quis saber.
- Eu, não! Pra começar, coração é vermelho.
- Bom, mas esse é o meu coração.
- E daí? porque é teu não é vermelho?
- Não é isso. É que eu ando chateado e então o meu coração tá assim desse jeito, parecendo que levou um soco e se achatou pro lado.
- Soco?
- E o coração vermelho é o coração de todo dia. O meu não está que nem todo dia, ele está todo diferente; então tem que ser de outra cor. Tem ou não tem?
- Não pode. Tem que ser vermelho. E tem que ser pontudo embaixo. Me dá aqui o papel pra eu te mostrar como é que é.
- 'Pera aí!, você não tá me entendendo. Acontece que...
(Trecho do Livro: O meu amigo pintor. Lygia Bojunga. RJ, 2004.)